quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cenários de dor

Segunda-feira, 31 de janeiro, dia normal de viver e trabalhar. No final do dia, recebo a infeliz notícia da morte de uma amiga, que retornava do trabalho. Trabalho exaustivo de uma assistente social atuando nos serviços penitenciários desse estado e país pouco preocupados com a boa aplicação das verbas públicas.

Que ocorreu? Um caminhão da empresa Schincariol, atravessa a estrada e choca-se com a ambulância, na qual estava minha amiga Elaine, junto com outros colegas, na condução de um presidiário para ser atendido no serviço de saúde da capital. Sua atitude generosa de sempre servir e ser fiel a seu juramento de assistente social, fez com que ela mais uma vez realizasse essa tarefa, que não era sua, por encargo de trabalho. A vida se interrompe pela tragédia, pelo fracasso do elo social, que não se estabelece para manter forte uma sociedade civil, capaz de cobrar ações da sociedade política.

Mais uma expressão do descaso com a saúde pública nesse país! Por que não pensar em hospitais locais e regionais para o atendimento da população, que paga impostos pesados para o erário publico? Até quando ambulâncias substituirão um sistema de saúde? Até quando as pessoas doentes conduzidas e seus condutores morrerão nas estradas?!

Nos municípios se produz o imposto, fruto do trabalho dos cidadãos. Por que não se aplica o arrecadado no lugar, onde moram os contribuintes, solucionando seus problemas básicos? Como é possível falar de desenvolvimento, de crescimento, de justiça, sem nos apropriarmos de uma realidade na qual as vidas humanas estão fragilizadas e expostas aos desacertos dos dirigentes, tanto públicos quanto privados? Que fazer diante dessa atitude de descaso com a vida?

A empresa responsável pelo veículo causador do assassinato de minha amiga, que faz? Quem lhe cobra a responsável vistoria dos caminhões deslocados para as estradas? O motorista alega problemas na direção do caminhão, por isso não conseguiu manobrá-lo para evitar o choque. Mas um veículo, nessas condições, deve ser colocado para trafegar com cargas, de um modo irresponsável, movido pela ganância de lucrar cada vez mais, cuidando cada vez menos da vida e da segurança das pessoas?!

É certo que as punições não trarão de volta a alegria e o sorriso de Elaine e nem produzirão conforto na sua mãe octogenária, que contempla o corpo da filha desacreditando do imponderável. Quem preencherá o coração de seu filho, cuja orfandade é singular e insuportável?!

Apesar de todas essas impossibilidades diante da morte, em que vivemos esses cenários de dor, é preciso que motoristas irresponsáveis e seus patrões sejam punidos exemplarmente. Não há que manter carteira de motorista para quem assassinou. A moralidade pública tem que começar a acontecer além dos discursos vazios e das promessas vãs.

Num país de tantas mortes por encostas que deslizam, prédios que desabam, automóveis usados como arma, que fazer? O compromisso tanto do setor público, quanto do setor privado é condição imprescindível para que a vida seja boa e justa para todos, sem privilégios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário